sexta-feira, 27 de março de 2009

doenças espirituais.

Doenças Espirituais - I Depois de refletirmos sobre o pecado em geral é importante meditar sobre as principais maneiras como o pecado se manifesta em nossas vidas. É impossível falar sobre todas as espécies de pecado, mas é possível traçar algumas linhas gerais sobre os principais tipos de pecado, verdadeiros troncos dos quais os outros pecados se originam. A nomenclatura mais conhecida isso é pecado capital, onde este último termo vem de cabeça, significando que os pecados capitais são os cabeças de uma série de pecados. Neste reflexão sigo a nomenclatura do Padre Paulo Ricardo, que prefere utilizar, seguindo uma antiga tradição, a expressão doença espiritual. A preferência se dá porque quando se fala em pecado isso dá a impressão de que o problema está resolvido com uma confissão, quando na realidade o problema deve ser tratado como uma doença que necessita de um longo tratamento. As primeiras três doenças espirituais são a gula, a luxúria e a avareza. Gula Infelizmente hoje em dia o pecado da gula é tratado como algo menor, sem importância, restando praticamente esquecido que se trata de um pecado capital, que atrapalha bastante a vida espiritual de qualquer um. Segundo São João Clímaco as conseqüências da gula são o espírito de fornicação, dureza de coração, sono, maus pensamentos, preguiça, mexerico, espírito de contestação, insensibilidade, arrogância e exibicionismo, entre outras. Vejam, portanto, como a gula é séria! Tudo isso ocorre porque quando a pessoa cai na gula ela acaba sendo dominada por seus sentidos, dominada pela carne, poderíamos dizer, o que acaba por causar um certo entorpecimento da alma, porque o corpo fica fora de controle, de certa forma. Em outras palavras, se comemos demais é o corpo que manda em nós e não o contrário. Tecnicamente existem dois tipos de gula: A primeira é comer demais, com voracidade sem, necessariamente, se importar muito com o sabor dos alimentos. O outro tipo é aquele em que a pessoa se deleita excessivamente com alimentos saborosos, mastigando-os longamente. Obviamente os dois tipos podem existir ao mesmo tempo. Deixemos claro também que comer alimentos saborosos não é pecado, mas sim o deleite excessivo com eles, assim como o problema não é simplesmente questão de ser gordo ou ser magro. Com efeito, o principal não é simplesmente o comer, mas sim a atitude espiritual que assumimos ao nos alimentar, esquecendo que a comida não é um fim em si mesma. Os principais remédios para a gula é a temperança na alimentação e o jejum. Espiritualmente é importante comer enquanto ainda se está com um pouco de fome. Mas atenção é um pouco de fome! Também é importante comer alimentos saudáveis, mesmo quando não se gosta deles. Comer verduras e legumes muitas vezes pode trazer um bem espiritual maior que o físico. Os Padres da Igreja ensinam que é impossível ter uma vida espiritual sadia sem jejuar. Não exageremos no jejum. Escolhamos pequenos alimentos que gostamos muito e passemos um período sem ingeri-los, por exemplo. A razão do jejum não é simplesmente para que nós soframos um pouco ou simplesmente para passarmos fome. Se fosse assim todas aquelas modelos magérrimas seriam santas, bem como todos os pobres que passam fome. A Igreja não é sádica e não ordena que ninguém deve ser sádico. O jejum é a maneira de nós mostrarmos ao corpo quem é que manda, é forçar o corpo a obedecer a alma (e esta deve obedecer Deus). Por outro lado, abraçar uma pequena cruz de um jejum por escolha própria nos exercita e nos prepara para carregamos as grandes cruzes compulsórias que aparecem em nossas vidas. Por fim, é importante mudar a atitude espiritual que se tem ao comer: em espírito de ação de graças, percebendo que os alimentos são presentes que Deus nos deu. Para isso é importante rezar antes de todas as refeições. Luxúria Assim como a gula é o uso desregrado dos alimentos, a luxúria é o uso desregrado da sexualidade. Também neste caso a atitude espiritual é muito importante. O sexo é algo santo, devendo ser realizado com um espírito de doação, em que os esposos estão se doando um ao outro, ao invés de estarem buscando, cada um, seu próprio prazer físico. A luxúria não é pecado capital por acaso. O uso desordenado da sexualidade faz com que a pessoa passe a usar o sexo acima de tudo como fonte de prazer, fazendo de seu parceiro um mero objeto sexual e não uma pessoa. Mais importante: Ao invés de desejar Deus, a pessoa passa a desejar o prazer sexual. Os Padres da Igreja ensinam que nem todo mundo que cai na gula cai, necessariamente, na luxúria, mas que todo mundo que caiu na luxúria também já caiu na gula. Assim, para combater a luxúria é necessário combater também a gula, com os remédios que vimos acima. Outros remédios contra a gula: Os Padres da Igreja aconselhavam a realização de trabalhos manuais. Na realidade atual podemos considerar a realização de exercícios físicos como algo semelhante. A finalidade é evitar o ócio e possibilitar um sadio cansaço físico. Outra dica importante é não dormir demais e manter um padrão: dormir e acordar na mesma hora. Motivo? Mostrar ao corpo quem manda. Devemos também vigiar: Fugir das ocasiões próximas de pecado (filmes indiscretos, olhares e pensamentos maliciosos e etc) Mas o mais importante é ter a humildade de nos reconhecermos fracos e implorar a ajuda de Deus pela oração para nos curar dessa doença espiritual. Também é útil controlar nossa imaginação, diminuindo o tempo que passamos vendo televisão, navegando na internet, lendo romances e etc e utilizar esse tempo para orar e ler a Bíblia. Avareza Avareza é o apego aos bens materiais. Ela pode se manifestar por meio de uma vontade de possuir cada vez mais ou pela dificuldade de se desprender dos bens possuídos. A avareza tem uma natureza idolátrica, como disse São Paulo: “o ganancioso é um idólatra” (Ef. 5, 5). Para o avarento os bens materiais são a sua fonte de segurança ao invés de Deus. É por isso que Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar a outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt. 6, 24). A avareza existe por três motivos, conforme ensinamento de São Máximo, o Confessor: amor ao prazer que os bens materiais podem trazer, vaidade de se vangloriar pela riqueza que se possui e a falta de fé de quem deposita sua confiança nos bens materiais, ao invés de Deus. Ele afirma ainda que a causa mais grave é esta última. Assim como na gula o pecado não está na comida, mas no homem que come, como na luxúria, onde o pecado não está no sexo, mas no homem que o realiza, na avareza o pecado não está no dinheiro, mas no homem que o possui. O papa São Gregório Magno ensinou que a traição, a fraude, o perjúrio, a inquietação e a dureza de coração são conseqüências da avareza. Outro efeito é que o próximo deixa de ser visto como uma pessoa e se torna apenas alguém que o avarento pode utilizar para adquirir mais bens. O primeiro passo para a cura é refletir se somos avarentos. Como? São João Clímaco dá uma dica: Se alguém se entristece quando se desfaz de um bem é porque é avarento. É importante frisar que isso vale para qualquer bem, mesmo aqueles que têm um valor sentimental bem maior que o valor material. Santa Terezinha do Menino Jesus repreendeu sua irmã, também freira, porque esta se entristeceu depois que deu seus grampos de cabelo para outra freira que lhe pediu. Outro passo importante é reconhecer as coisas como elas são: transitórias e sem o valor que o avarento lhes atribui. Ao mesmo tempo deve se ter uma sólida fé em Deus, que é a verdadeira segurança de todo homem. Ainda devemos nos contentar com o que se possui (não confundir com mediocridade) e exercitar o desapego aos bens materiais, especialmente pela esmola, não apenas de dinheiro mas também de roupas, objetos e utensílios que muitas vezes estão empoeirados em nossos armários. Marcelo Moura Coelho http://cooperadordaverdade.wordpress.com/