sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Epilepsia



Epilepsia

Quando eu estava no 2º ano de faculdade um amigo teve um convulsão no meio da sala de aula, um outro amigo ficou assustado, disse que não era para tocar a baba dele para não haver contaminação! Isso aconteceu no século vinte! Você deve perguntar qual o curso que esse homem fazia? Por incrível que pareça, psicologia!

Mais tarde o amigo informou-nos que tinha epilepsia, fazia tratamento. Nós, como estudantes de psicologia, tínhamos curiosidade sobre os motivos psíquicos da epilepsia, mas as respostas não satisfaziam, ficavam adstritas a área física. Como espírita a curiosidade era maior uma vez que sabemos que o acaso e o acidente não regulam nossas vidas, mas sim a Lei de Causa e Efeito. Como diz Manoel P. Miranda: “Cada homem é a soma das suas realizações.” O que uma pessoa teria feito para gerar essa alteração neurológica em si mesma?
A resposta encontrei no livro Grilhões Partidos, onde Manoel P. de Miranda visita um hospital psiquiátrico e presencia a convulsão de uma jovem epiléptica. A explicação “no caso dela” é a seguinte:

“No último quartel do século passado, iremos encontrá-la na rou­pagem de atriz menos categorizada, que, portadora de invulgar beleza, de cedo entregou-se a toda sorte de dissipações, nas quais manteve graves conúbios com pessoas pervertidas, deixando-se arrastar a gra­vames muito sérios.

“À aproximação dos 40 anos, como não se celebrizasse no teatro, fez-se hábil na preservação do patrimônio em dinheiro e jóias, avida­mente reunidos, pensando garantir-se na velhice, quando exaurida.

Para lograr o intento, consorciou-se com astuto chantagista que a uti­lizava na arte da exploração de cavalheiros idosos e irresponsáveis, mantenedores da arte galante que conduz aos prazeres fugidios.

“É claro que logrou sucesso… Demandou a Europa diversas vezes, a expensas de cidadãos apaixonados, entregando o corpo e a alma às mais torpes sensações.

“Desenvolveu-se-lhe singular ganância, fascinada cada vez mais em tormentosa cupidez pelas jóias, que a deslumbravam, convertendo-se em infeliz negociante de prazeres, mediante a utilização de jovens mulheres, que ludibriava e escravizava.

“Com habilidade invulgar, recorrendo à dissimulação e ao engodo, em que se fez excelente atriz, logrou descartar-se do esposo inditoso, comparsa dos seus crimes, através de bem urdido homicídio, no qual tomou parte relevante um jovem apaixonado, a quem se uniu por algum tempo, acariciando glórias, padecendo receios, dando prosse­guimento ao programa de leviandades.

“Temendo a denúncia do cômpar, quando este denotava sinais de cansaço das suas carícias, não trepidou eliminá-lo, a seu turno, numa das viagens transatlânticas, recorrendo a guloseimas envenena­das, não mais se vinculando especialmente a pessoa alguma, saturada dos excessos da sensualidade e atormentada, mais ainda, pelo pavor de vinganças ou rapinas, no meio em que vivia, explorando as vítimas com maior agudeza e fazendo-se, em conseqüência, execrável crapulosa.

“Viveu longos anos perseguida pelos desvarios da posse, que de­fendia mediante a usança de todo artifício imaginável, agasalhando, porém, sem o perceber, a memória das vítimas, em forma de receios e remorsos que se lhe infiltraram na mente em desalinho, até que a lou­cura, no termo da existência física, arrastou-a a um Manicômio, onde sucumbiu, esquecida, malsinada…

“Não faltaram aqueles que se locupletaram nos haveres deixados, sob os estigmas da desonra, da hediondez.

“Ingressou no além-túmulo exaurida e seviciada pelos antigos con­sórcios que a aguardavam, vingativos, padecendo, por algumas déca­das, inomináveis aflições.

“O genitor atual é o antigo esposo, que a precedeu, a fim de esperá-la e que não titubeou em interná-la nesta Casa, logo se lhe agra­varam as crises epilépticas, depois de martirizá-la demoradamente, com o desprezo e o ódio com que a tratava.

“A mãe, por sua vez, é uma das jovens exploradas, que desde cedo exteriorizou singular aversão pela filha, enferma desde os ver­des anos da primeira infância, quando padecia as ausências prenunciadoras das disritmias cerebrais, que se agravariam na puberdade, tornando-se a epilepsia genuína de hoje.»

Compungido, o Orientador facultou-nos, em pausa significativa e oportuna, reflexionar ante o quadro austero do sofrimento, a refletir a justeza das Leis da Vida, que não esquecem, não condenam, não libe­ram senão pela reabilitação do culpado.

— Condicionada por longos anos — elucidou com benignidade – a dissimulação, à mentira, ao suborno, acalentando pavores que a arrastaram à loucura, lesou os centros perispirituais, que em se fi­xando no novo corpo, alteraram o metabolismo endócrino, produzindo a enfermidade que ora lhe cobra os delitos cometidos.

“Face ao estado avançado da enfermidade, porquanto as fixações mentais antigas ressurgem como alucinações que lhe complicam o quadro patológico, defronta, quando se desprende parcialmente do corpo nas rudes refregas convulsivas, o amante assassinado, ainda no Plano Espiritual, que a atemoriza com bem urdida maldade. O horror que a assoma se transmite à aparelhagem orgânica, motivando nova e penosa crise, a suceder-se, não raro, por horas contínuas.

O ditado popular costuma falar da “ironia da vida”, nós vamos chamar de “sabedoria da vida” ao aproximar a antiga homicida do marido, hoje na figura de pai, que a internou no hospital psiquiátrico. Uma das jovens exploradas no passado surge, hoje, como sua mãe, carregada de aversão “gratuita” no presente, mas que tem sua base na exploração do passado. O amante do passado também assassinado por ela aparece como obsessor a atormentá-la ainda mais. Não bastasse a presença dessas pessoas inamistosas em sua vida, as lembranças dos crimes do praticados eclodem atormentando-a ainda mais. Aí estão os motivos de sua epilepsia.

fonte:
http://www.radioboanova.com.br/