terça-feira, 25 de janeiro de 2011

EXPIAÇÃO-Gabriel Delanne



EXPIAÇÃO-Gabriel Delanne

Na subjugação, antigamente chamada possessão, o domínio do Espírito é completo. O subjugado é um instrumento absolutamente dócil às sugestões do Espírito, que chega mesmo a não lutar contra esse poder oculto, quer física, quer moralmente falando. Torna-se-lhe, assim, inteiramente passivo. A vontade do obsessor avassalou, substituiu totalmente a sua vontade. Com mais um pouco, acabará perdendo a noção de si mesmo, passando a crer-se um personagem célebre, um reformador do mundo, etc.

Numa palavra: tornar-se-á louco, pois não é impunemente que a influência perturbadora se exerce por longo tempo e, uma vez sobrevindo as lesões do cérebro, a moléstia torna-se incurável. Pode o enfermo apresentar diversos tipos de subjugação. Assim que, às vezes, a subjugação é apenas moral e, neste caso, o indivíduo tomará as resoluções mais extravagantes, até contrárias aos seus interesses, ou ilegais, firmemente convicto de estar procedendo com absoluto bom senso. De caráter material, a subjugação pode apresentar modalidades bem diferentes.

*Allan Kardec conheceu um homem, nem jovem nem bonito, que, impelido pelo Espírito obsessor, ajoelhava-se aos pés de todas as moças. Outro, sentia nas costas e nos tornozelos uma pressão tão forte que o levava a genuflectir-se e beijar o chão, em plena rua, diante de todo o mundo. Este homem era tido por louco, mas ainda não o era, por isso que percebia o seu estado e com isso muito sofria. O hipnotismo veio dar-nos a chave destes fenômenos. O indivíduo obedece, mais ou menos passivo, a quem o imergiu nesse estado; não pode oferecer resistência eficaz à sugestão, sejam quais forem as consequências que lhe possam daí advir.

Suponhamos que essa situação se prolongue por semanas, meses, anos, e teremos as desordens físicas, difíceis de curar, mesmo depois de afastado o Espírito obsessor. Ver o que se registra sobre os convulsionários de Salnt--Médard, os tremedores de Cévennes, os iluminados, os predicadores da Suécia, etc., constantes de "L'Histoire dês Sciences occultes", de Salvest, e de "L'Histoire contemporaíne du Merveilleux", de L. Figuier.

Até agora, ignorava-se que uma causa espiritual extra-orgânica pudesse originar a loucura e, consecutivamente, desordens encefálicas; de sorte que, cuidando apenas do corpo, negligenciava-se quanto ao Espírito. O Espiritismo veio demonstrar a necessidade de um tratamento moral do enfermo, coincidente com a intervenção junto do obsessor, e mais, que, em muitos casos, se a lesão não for irremediável, torna-se possível restituir ao alienado o seu vigor orgânico e, com ele, a razão. Os médicos têm o dever de estudar nossa doutrina, uma vez que sua profissão obriga-os a investigar todos os meios de sarar os enfermos.

Mais tarde, quando a fenomenologia espírita estiver mais conhecida, muitas formas de loucura, até agora reputadas incuráveis, poderão ceder a uma terapêutica já não sistematicamente materialista. O voluntário abandono a que relegam a causa psíquica da enfermidade é o que faz que a Ciência se torne impotente, tantas vezes. Não diremos que se não tenha procurado tratar a loucura do ponto de vista intelectual, o que seria passar atestado de ignorância. O que pretendemos dizer é que se tem tomado uma falsa direção, deixando de cogitar da parte condizente ao obsessor, isto é, do hipnotizador desencarnado.

A este é que importa rechaçar, antes de tudo o mais, com os recursos preconizados pelo Espiritismo. Isto feito, vencida estará a maior dificuldade e não restará mais que reparar o corpo, tarefa que incumbe naturalmente à medicina, desde que, como acima dissemos, as degradações orgânicas não sejam de maior vulto. Voltando a tratar da loucura em suas relações com a hereditariedade, é incontestável que, em muitos casos, ela é devida a uma lesão do sistema nervoso e manifesta-se em certas fases da vida, provindo dos pais, por vias hereditárias. Neste caso, não há que presumir se trate de Espíritos obsessores. Trata-se do próprio organismo viciado, deteriorado, e que destruído por influência alcoólica, de sorte que, na criança, o cérebro não ocupa toda a caixa óssea. Outras vezes, as convulsões dos ascendentes transmudam-se em histeria, ou epilepsia nos descendentes.

Cita-se um caso de hiperestesia paterna (desenvolvimento doentio da sensibilidade), que se estendeu aos netos e produziu a mania, a hipocondria, a histeria, as convulsões, os espasmos. .. Casos são estes abundantes, que a teoria da reencarnação expiatória explica satisfatoriamente. Vamos dar alguns exemplos: O perispírito não é criador, é simplesmente organizador da máquina; mas, se a hereditariedade apenas lhe faculta materiais viciados ou incompletos, ele é incapaz de os regenerar e sempre restam partes do cérebro forradas à sua influência.

Ora, tão complexa é a vida mental, o jogo de faculdades tais como memória, ideação, imaginação, julgamento, etc.; e tão íntima é a sua ligação, que a deficiência de uma só faculdade entrava a manifestação das outras. E, daí, as desordens a que aludimos. Guitras também nos conta o seguinte: — Um homem acometido de loucura tem filhos normais, que exercem cargos públicos com muito critério. Isto, bem entendido, de começo, porque, aos 20 anos, ficam loucos. Sobre 22 casos de loucura hereditária, Aubanel e Thoré notaram episódios deste gênero.

Famílias há cujos membros, salvo raras exceções, são atingidos da mesma espécie de loucura. De uma feita, internaram-se, no mesmo dia, três parentes, num hospício de Filadélfia. No de Connecticut, havia um louco que era o undécimo da família. Lucas refere-se a uma senhora que era o oitavo, e o mais curioso é que o mal manifestava-se na mesma idade, através de sucessivas gerações. Um negociante suíço viu morrerem-lhe dois filhos loucos, ao completarem os 19 anos. Uma senhora enlouqueceu de parto aos 25 anos, e teve uma filha que enlouqueceu na mesma idade, depois de repetidos partos. Em dada família, pai, filho e neto suicidaram-se aos 50 anos (Esquirol).

Nada obstante todos estes fatos que acabamos de citar, a hereditariedade intelectual não se faz regra, pois se nota que são as enfermidades e não as faculdades propriamente ditas que se transmitem por via seminal. As qualidades inatas são muito mais frequentes, em que pesem às numerosas exceções. Foi o que sustentou o Dr. P. Lucas, cuja opinião compartilhamos, visto sabermos que o Espírito, ao encarnar, traz a sua individualidade, quase sempre diferente da dos pais. Não vemos, às vezes, homens de gênio nascidos de troncos medíocres?

E, por outro lado, celerados oriundos de famílias honestas? A lei da reencarnação explica perfeitamente estas anomalias aparentes, visto que neste estudo, como em todos os que afetam o físico e o moral, importa não nos colocarmos num ponto de vista exclusivista, sob pena de ficarmos sempre adstritos a um só lado da questão. O sábio que só encara a matéria engana-se tão redondamente quanto o espiritualista que só enxerga o Espírito.

Ao Espiritismo cabe esclarecer a Ciência, dilatando-lhe os domínios até ao mundo invisível. Diremos, portanto, que o Espírito, encarnando, traz consigo, incontestavelmente, as aquisições de vidas anteriores, mas é preciso termos em conta as disposições orgânicas, que podem ser favoráveis ou prejudiciais ao desenvolvimento das faculdades inatas.

Eis o que, a respeito, diz o Dr. Moreau (de Tours), que não admite a hereditariedade senão do ponto de vista fisiológico, quando afirma ser a transmissão hereditária das falhas orgânicas que produz as moléstias mentais nos descendentes. Outra coisa não dizemos nós, embora divergindo, em absoluto, do Dr. Moreau, quanto à natureza do princípio inteligente. (..)

fonte:
http://www.comunidadeespirita.com.br/temas/expiacao.htm