segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O passe no centro espírita



Revista de Espiritismo nº. 33, Outubro/Dezembro 1996

É habitual quanto baste. Já houve quem falasse nos «papa-passes». Nada mais é, porém, do que um paliativo, um apoio, que depende sobretudo da receptividade de quem o recebe e da sua capacidade de harmonizar a sua vida interior. Falamos do chamado passe, com frequência ministrado individualmente após a palestra no centro espírita.

Quem procura o centro espírita em condição de necessidade – se deprimido, angustiado ou de algum modo enfraquecido –, após ouvir a palestra de 30 minutos, raramente deixa de se incluir na fila para o passe magnético individual que se segue. Como qualquer serviço espírita, necessariamente este também é totalmente gratuito. Nem seria preciso dizer, mas nunca é demasiado sublinhar.

Mas por que é que isso acontece? Porque as pessoas alimentam a esperança de que os eflúvios energéticos invisíveis saídos das mãos do passista (a pessoa que dá o passe) as vão retemperar, aliviar as tensões, reequilibrar fluidos. E assim venham a sair do centro mais fortalecidas após um quotidiano tão desgastante para tanta gente.

Mas o que é o passe magnético?

Definem-no os espíritos desencarnados como uma espécie de transfusão de energias espirituais, que são transferidas do passista para quem recebe o passe, tanto mais quanto mais este esteja numa situação de receptividade. E tudo isso através da imposição das mãos, como fazia Jesus.

Os envolvidos no passe no centro espírita são o médium-passista (uma pessoa cuja função é irradiar paz, ânimo e esperança), o espírito-passista (um técnico especializado a nível de energias espirituais) e quem recebe o passe cabe-lhe um esforço de sintonia).

Como se vê, a cada um cabem tarefas específicas. O primeiro ponto é a receptividade, a sintonia de quem recebe o passe. Não sentir nervosismo, ansiedade, tranquilizar-se, pensar no bem, não sentir quaisquer sentimentos como os de rancor, de vingança ou vaidade, ter fé na bondade de Deus, que aceita a colaboração na sua seara.

Emitir e receber
Sempre que pensamos e sentimos, estamos a movimentar energias. Cada estado de alma corresponde à emissão/absorção de um certo tipo de energia, que entra pelos centros de força espiritual («chakras»), mediante a sua natureza, incorporando-se à tessitura do perispírito (corpo espiritual) e trazem-nos estados de mau-estar ou de bem-estar. Pensamos e agimos, criando a nossa própria (in)felicidade.

Se temos dias povoados de pensamentos desordenados e de uma afectividade descontrolada, é natural que como resultado as nossas energias espirituais entrem em circuitos de degradação, com os seus efeitos indesejáveis na vida interior, necessitando de compensações.

Ao ser constituída uma equipa de passistas, cada elemento desse grupo recebe noções teóricas sobre a aplicação do passe.

Padronizados
Como o centro espírita deve ser organizado, a orientação equilibrada é a do passe padronizado. Mas passe padronizado é apenas o passe uniformizado, aplicado da mesma maneira por todos os elementos da equipa de passes. É uma questão de disciplina e de coerência.

Dado os excessos, infelizmente mais comuns do que seria de desejar, de gesticulação e de outros atavismos como estalidos de dedos, sem referência experimental e muito menos científica, o melhor passe padronizado, a nosso ver, é sobretudo e apenas a imposição das mãos, sem tocar na pessoa que vai receber o passe. Isso e o resto apenas porque o que funciona na verdade é a mente.

O passe colectivo
Quando a equipa do passe magnético é de pequeno número face à multidão que o procura, sem qualquer prejuízo para os eventuais beneficiados, recorre-se ao passe colectivo. Uma vez que o principal neste processo de ajuda espiritual é a sintonia do candidato a receber o passe, os próprios espíritos-passistas durante a palestra ministram bênçãos fluídicas a quem estiver nas condições necessárias para participar na ocorrência deste fenómeno enquanto beneficiado.

O apoio espiritual prestado com o passe deixa de ser necessário quando os pensamentos e as atitudes de todos nós tomarem um rumo predominantemente equilibrado.

A necessidade do passe
Assim, o curso das energias que movimentamos inconscientemente tornar-se-á normal, afectivamente compensador, evitando degradações e incidências desajustadoras do corpo espiritual.

Esse paliativo — o passe- magnético — será dispensável, uma vez que os sentimentos e ideias construtivas predominarão em quem trabalhar nesse sentido, ordenando e compensando desgastes e desequilíbrios energéticos ou, por outras palavras, fruindo de um bem-estar interior capaz de propiciar uma vida edificante, alicerçada no bem.