segunda-feira, 7 de março de 2011

Abortamento eugênico



Leve-o para casa e dê-lhe amor! Recomendou o especialista do hospital.

Aquela mãe entendeu, sem que o médico precisasse completar o evidente: Enquanto ainda o tem.

Jonathan não se parecia em nada com os outros dois irmãos.

Sob o ralo cabelo castanho-escuro, a testa era demasiado grande e quadrada e os olhos muito separados.

A mãe soubera, logo em seguida, que o rosto do novo filho era a menor das preocupações. Jonathan, informara-lhe o pediatra, tinha uma grave forma de doença congênita do coração.

Se a doença seguisse seu curso, em breve ele contrairia pneumonia. Se sobrevivesse ao primeiro ataque, outros se seguiriam até seu frágil coração parar.

Mais tarde, o especialista disse que, provavelmente, Jonathan nunca poderia andar e nem mesmo sentar-se sem ajuda - e tudo indicava que seria mentalmente deficiente.

Por que haveria de acontecer isto a mim? - perguntou a mãe, mergulhada em autocomiseração.

Por que logo Jonathan, que era tão desejado por nós?

O doutor Haydem a interrompeu bruscamente:

Que pensa que aconteceria a uma criança como Jonathan se tivesse sido enviada a pais que não a quisessem?

Quanto a acontecer isso a você - falou mais delicadamente - creio que talvez o próprio Jonathan lhe dê a melhor resposta.

As sábias e proféticas palavras daquele verdadeiro médico vieram a se comprovar ao longo dos anos.

Aquele menino da cara gozada, como era chamado pelas outras crianças, provou que era merecedor de todo o amor que seus pais pudessem lhe dar e que também era capaz de amá-los com a mesma intensidade.

Superadas foram todas as expectativas de falência de Jonathan.

Ele, amparado pela família, superou as dificuldades e limitações que se havia imposto em outras existências...

Lutou e sofreu, mas carregou a cruz que ele próprio tinha construído outrora.

As portas da reencarnação lhe foram abertas como uma nova oportunidade de refazer equívocos e aprender novas lições, e ele soube valorizar...

Quando os colegas lhe perguntavam sobre as grossas cicatrizes cirúrgicas que tinha por todo o corpo, ele respondia bem humorado: São meus zíperes para deixar os médicos entrarem e saírem com mais facilidade.

* * *

A história de Jonathan foi escrita por sua mãe, Florence Kirk, em 1965.

Naquela época, embora os recursos da medicina não estivessem tão avançados quanto hoje, houve um médico que soube honrar seu juramento de lutar pela vida, ainda que todas as evidências fossem favoráveis à morte...

Jonathan, mesmo em estado de feto no útero materno, já trazia as deficiências que expressou ao nascer, mas teve a sua chance de lutar pela vida...

Será que hoje, quando grande parte dos médicos se esqueceram dos seus juramentos e eliminam os fetos com má formação, Jonathan teria a mesma oportunidade?

Nos dias atuais, a medicina está tão avançada que permite que o feto seja tratado ainda no ventre materno.

Eis aí o grande desafio para os especialistas: Matar, nunca.

Redação do Momento Espírita, com base em artigo publicado
na Revista Seleções Reader’s Digest, dez/1965.


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